Falar em tendência no mundo do vinho por vezes soa cansativo, um exercício de adivinhação, por vezes um tema mais guiado mais pelas ações e orçamentos de vinícolas, marcas e importadores; que pela lógica racional dos analistas do setor ou estatísticas que refletem um momento passado. Para não cair nesta armadilha, consultamos alguns especialistas do time da Gula e perguntamos: Quais vinhos nossos leitores deveriam beber em 2023?
Daniela Bravin e Cassia Campos ( @danielabravin e @cassiafcampos )
Agora cada vez mais difundidos em função das ações de sommeliers e importadores e também da inserção na coquetelaria, o Jerez é uma tradição que está voltando a ser tendência.
São diversos estilos que harmonizam muito bem com nossa gastronomia. Finos e Manzanillas com aperitivos e frutos do mar, os estilos oxidativos com pratos mais robustos e os doces que por si só já são uma sobremesa. No nosso restaurante espanhol, Huevos de Oro, temos mais de 20 opções em taça para conhecedores e pra quem tem curiosidade de provar, notamos um crescimento na procura por esse estilo de vinho.
Outra recomendação na mesma linha, são os vinhos tranquilos de Jerez. Casas tradicionais começam a enviar pra cá seus exemplares da uva Palomino, vinificada sem fortificação, como é o caso da tradicional bodega Barbadillo e do novo e já aclamado projeto Muchada-Léclapart
Luiz Horta ( @luiz.horta )
Em 2023 vamos beber "perto". Indo ao encontro da idéia de queimar menos carbono no transporte, e com a excelência a que chegou a enologia chilena e os incríveis "malbecs de terroir" que reviraram Mendoza, serāo os vinhos mais próximos e de lugares bastante visitados pelos brasileiros que consumiremos.
Na leva entrarāo também, claro, brasileiros e uruguaios. E beberemos mais casualmente, de forma menos esnobe. Está cada dia menos fácil ter uma adega em casa, para vinhos de longa guarda (teria que combinar com meu vizinho do andar abaixo...) entāo, beberemos jovens, das safras vigentes e que acompanhem bem comida. Se for falar em uvas, minha aposta no Chile sāo os Syrahs e os Cinsaults.
Marcel Miwa ( @marcel.miwa )
Do lado pragmático, há uma mesma onda onda em toda América do Sul a ser explorada. Enquanto os grandes produtores entregam qualidade e consistência bem conhecidas e mapeadas, há todo um universo de pequenas vinícolas buscando expressões autorais, equalizações diferentes e menor intervenção (atenção para não ir na furada do vinho “sem intervenção” - um fraco storytelling). Entrando em exemplos concretos: No Uruguai, vale procurar por Compañía Uruguaya de Vinos de Mar ou Nakkal; na Argentina, Canopy, Escala Humana, Valle Arriba ou Leo Borsi Wines; no Chile, Massoc & Freres, Rogue Vines ou Carter Mollenhauer, vale provar, sobretudo, o que está surgindo de projetos e rótulos de Itata; e no Brasil, Vinhas do Tempo, Cata Terroirs ou a Arte da Vinha.
No lado romântico, acredito que qualquer pessoa que gosta de vinho deveria provar neste ano ao menos uma garrafa de Arinto de Bucelas, Colares (branco ou tinto), Aglianico de Taurasi, Etna (branco ou tinto), Chenins e Cinsaults de Swartland, além de um Jerez Fino com ostras (se não gosta de ostra pode ser sem também).